Ambos perderam família na Segunda Guerra Mundial, mas hoje compartilham sua jornada da tristeza à paz, e um templo em Okinawa
Ex-líderes de Okinawa, que perderam seus pais na Segunda Guerra Mundial, agora se alegram com o fato de um templo agraciar sua terra
Ambos perderam família na Segunda Guerra Mundial, mas hoje compartilham sua jornada da tristeza à paz, e um templo em Okinawa
Ex-líderes de Okinawa, que perderam seus pais na Segunda Guerra Mundial, agora se alegram com o fato de um templo agraciar sua terra
OKINAWA, Japão — Quando era estudante do ensino médio, Akira Yafuso saiu de uma livraria em Okinawa e encontrou dois missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Ele não falava inglês e tentou evitar seu olhar. Em vez de olharem para o outro lado porém, eles se dirigiram a ele em um “japonês muito educado” e o convidaram para um evento naquela noite em sua igreja.
Yafuso aceitou o convite, embora tivesse sido feito por americanos.
Ele tinha apenas 3 anos quando seu pai foi morto durante a Segunda Guerra Mundial. Quando menino, ele prometeu à sua mãe devastada, que cresceria e vingaria a morte do pai. “Achava que todos eles eram meus inimigos”, lembrou ele.
Ainda assim, para sua grande surpresa, quando conheceu os missionários americanos, ele sabia que havia algo diferente neles, que eram mensageiros, não inimigos. “Eles estavam de bicicleta. Eles pareciam estar muito felizes. Eles conversaram com todo mundo”, lembrou Yafuso.
Quando ele demonstrou interesse em seu trabalho, eles lhe contaram sobre a Primeira Visão de Joseph Smith. Ele sabia que um garoto de 14 anos não mentiria. “Tive a sensação de que esta mensagem era importante”, disse ele.
Nas semanas que se seguiram, ele visitou os missionários todos os dias depois da escola. “Fiz muitas perguntas e adorei as discussões com eles.”
Ele foi batizado em um dia de tempestade, um mês depois, em janeiro de 1959.
Por causa do mau tempo, os missionários pediram a Yafuso que adiasse seu batismo. Mas ele recusou. Então, ele entrou no mar com três missionários. Um para realizar o batismo e dois para ajudar todos a se manterem firmes em meio ao vento e às ondas.
Em 1961, ele frequentou o Church College of Hawaii (Faculdade da Igreja no Havaí, hoje BYU-Havaí), antes de aceitar o chamado para servir como missionário na Missão Extremo Oriente do Japão.
Ele retornou da missão, se casou com Kiwako Tomihara e foi convidado para servir como presidente de ramo, por Kensei Nagamine, que na época servia como o primeiro presidente de distrito japonês em Okinawa.
‘Senti como se já tivesse ouvido o plano antes’
De acordo com um breve registro da histórica da Igreja no Japão, os primeiros missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias desembarcaram em Tóquio, em 1901. Quase 45 anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial, os militares americanos se tornaram os primeiros membros da Igreja a chegarem às ilhas Ryukyu, em Okinawa.
Em 8 de julho de 1945, logo após o fim da Batalha de Okinawa, aqueles militares começaram a se reunir regularmente para reuniões e conferências da Igreja. Em 1955, Presidente Joseph Fielding Smith, Presidente do Quórum dos Doze Apóstolos, visitou Okinawa e dedicou a terra para a pregação do evangelho. Em abril de 1956, os primeiros missionários santos dos últimos dias de tempo integral chegaram a Okinawa.
Nagamine conheceu os missionários em 1957, depois que ele e seus amigos começaram a participar de suas aulas de inglês.
Ele logo começou a frequentar as atividades dos jovens da Igreja, na época conhecidas como AMM, ou Associação de Melhoramentos Mútuos.
Nagamine nunca aprendeu a língua inglesa, mas continuou a se reunir regularmente com jovens santos dos últimos dias. Ele se juntou ao coro da Igreja e, por fim, aceitou ouvir as lições missionárias das sísteres.
“Quando ouvi as missionárias falarem sobre o plano de salvação, fiquei muito tocado e comovido, e senti o Espírito muito forte”, disse ele. “Senti como se já tivesse ouvido o plano antes.”
Sua família, especialmente sua mãe, teve preocupações imediatas.
Da mesma forma que Yafuso, Nagamine perdeu o pai, assim como o irmão mais velho, na guerra. Sua mãe não sabia como ele poderia fazer parte de uma Igreja ligada aos Estados Unidos da América.
Nas manhãs de domingo, os familiares vigiavam a porta do quarto de Nagamine, na tentativa de impedi-lo de ir à Igreja. Mas ele saía pela janela.
Apesar das objeções de sua família, Nagamine foi batizado em 1958. Ele tinha 21 anos.
Os membros locais da Igreja o ensinaram e o ajudaram a encontrar emprego. Ele aceitou o chamado para servir na presidência do Ramo Naha. Às vezes, depois das reuniões do ramo, ele acompanhava uma jovem santo dos últimos dias para casa. Seu casamento foi celebrado com uma fotografia publicada na revista Liahona da Igreja.
Na época não havia templo no Japão, então Nagamine e sua esposa, Hiroko Taira Nagamine, viajaram para o Havaí, onde foram selados e também completaram o trabalho do templo para o pai e o irmão de Nagamine.
Ele serviu como o primeiro presidente de distrito e depois presidente de estaca em Okinawa. Yafuso serviu como seu conselheiro e depois como o segundo presidente de estaca.
Em 1988, Nagamine redigiu uma carta à Primeira Presidência, em nome dos santos dos últimos dias em Okinawa. A carta detalhava a “etiqueta, música, poesia e dança” da região e enfatizava os objetivos missionários e educacionais dos membros. “Os membros em Okinawa têm um grande desejo e esperança de terem seu próprio templo na ilha em um futuro próximo”, escreveu ele, acrescentando que “nosso conhecimento da Restauração do evangelho de Jesus Cristo nos enche de alegria e de grandes esperanças para o futuro.”
Cerca de 35 anos depois, essas orações serão respondidas, quando Élder Gary E. Stevenson dedicar o Templo de Okinawa Japão no domingo, dia 12 de novembro.
Um templo para Okinawa
Depois de filiar-se à Igreja, Yafuso recebeu ajuda de militares americanos para frequentar o Church College of Hawaii. Os militares também ajudaram a construir capelas na área.
Élder Neal A. Maxwell, do Quórum dos Doze Apóstolos, e Presidente Boyd K. Packer, Presidente em Exercício do Quórum dos Doze Apóstolos, serviram em Okinawa durante o serviço militar dos Estados Unidos, na década de 1940. Como Apóstolos do Senhor, eles visitaram Okinawa anos mais tarde.
Yafuso e Nagamine se lembram de ouvi-los testificar que Okinawa é um lugar especial.
Durante uma das ocasiões em que Presidente Packer regressou a Okinawa, ele se reuniu separadamente com ambos os líderes. Logo depois, Nagamine foi chamado para servir como presidente do Templo de Tóquio Japão e Yafuso como presidente da Missão Japão Hiroshima.
Os homens sabiam que haviam completado um círculo, desde a dor causada pela guerra, até a alegria, a esperança e a paz encontradas no serviço à Igreja de Jesus Cristo e ao atenderem o chamado de um dos Apóstolos do Senhor.
Nagamine disse que ao longo dos anos, sentiu a voz de seus ancestrais, que ele sabia que estavam esperando por um templo nesta terra.
No Parque Memorial da Paz, em Okinawa, estão gravados os nomes de todos aqueles que morreram na ilha durante a Segunda Guerra Mundial. O memorial não inclui apenas nomes de japoneses, mas também de militares dos Estados Unidos. Alguns dos nomes no memorial são de amigos de Presidente Packer e de Élder Maxwell. O pai e o irmão de Nagamine e o pai de Yafuso também fazem parte do memorial.
“Cerca de 240 mil pessoas morreram em Okinawa. Acredito e sinto que esta terra de Okinawa está purificada ou santificada pelo sangue destes antepassados e militares”, disse Yafuso. “E agora é tão bom ter uma Casa do Senhor em Okinawa, ter um símbolo de paz. Queremos ser um povo que ama o templo do Senhor.”